Aqui há dias gerou-se uma discussão, algo confusa, no Correio do Fantástico sobre o Fantástico e a FC em Portugal. Eu não consegui acompanhá-la, e as opiniões estão lá para todos os gostos. Tive oportunidade de conseguir sentir o conteúdo daquela discussão através de um post no Anagrama Anárquico e, mesmo concordando com aquele, vou eu fazer o meu comentário. E faço-o, porque penso que o problema é mais profundo. Por hoje, deixo aqui o excerto de um texto meu publicado na Alterwords nº 2. Sim! É mais um choradinho, mas não são lagrimas de crocodilo...
«(...) É preciso dar voz e quem escreve por gosto, a quem se limita a deixar fluir as ideias para o papel e com elas tece histórias, histórias que devem ser contadas, que têm de ser contadas para se cumprirem, para poderem ser chamadas de histórias.
Eu tenho um livro publicado – Império Terra: o princípio... A oportunidade foi-me dada pela Papiro. Foi lançado em 22 de Fevereiro de 2008, na Bertrand do Vasco da Gama, tive direito a tudo aquilo que um escritor que publica um livro tem e foi tudo. Os apoios para manter o livro nas prateleiras das livrarias foram poucos ou nenhuns e foi com tristeza que fui assistindo ao seu desaparecimento das montras, das estantes, e fui-me perguntando porquê.
A resposta é, exactamente, porque o livro é um negócio, é visto como um potencial artigo de lucro e não como aquilo que ele realmente é, ou deveria ser, uma porta para a alma de quem o escreveu, para uma alma que tem a necessidade missionária de contar histórias, histórias que ensinam, que têm uma moral, ou que simplesmente entretêm.
Quem tem culpa disto?
Todos nós.
Começando no próprio escritor que, a dada altura da nossa história social, se auto excluiu do mundo, se tornou inacessível, às vezes inentendivel, escondendo-se sob rebuscadas metáforas, palavras difíceis, e dessa forma se tornou o símbolo elitista de uma classe abastada, ou o ostracizado parasita da sociedade. E foi por entender esse erro que surgiram alguns interessantes fenómenos de popularidade, como é o caso do Paulo Coelho, que soube contar histórias difíceis de maneira simples...
Depois apareceram os intelectuais, os críticos literários, aqueles senhores que dizem mal de tudo o que se faz de novo e nunca, jamais, terão coragem de dizer o que realmente pensam de um livro mau de um escritor reconhecido. Estes senhores estagnaram a literatura, congelaram os parâmetros pelos quais se reconhecem boas obras, baniram os ensaístas e com este banimento condenaram todos aqueles que querem escrever de forma diferente. É curioso verificar que a maior parte destes senhores jamais publicaram: será porquê? Será porque não têm coragem, ou porque não o sabem fazer?
Por fim, temos o leitor. Esse pobre que é muitas vezes apontado como o culpado - «Em Portugal lê-se pouco!». – é uma vítima de toda esta maquinação. O leitor encontra-se desinteressado, porque tudo o que é publicado é igual e porque é desencorajado a ler coisas diferentes. Poderemos comparar esta questão ao problema político que se vive em Portugal: eles são todos iguais, não sabemos em quem votar, e por isso não votamos. Por isso se diz -« Em Portugal há muita abstenção». Se transpusermos para a leitura teremos: os livros são todos iguais, são caros, os diferente são mais baratos, mas são considerados inferiores, e então não compro e não leio. Se a esta questão somarmos a preguiça galopante da nova geração, a tendência por optar pelas coisas que dão menos trabalho e que permitem a maior absorção de informação possível no mais curto espaço de tempo, temos o cenário actual.
Assim, neste contexto, o livro realmente tornou-se num objecto de pouca procura, e é a escassez, de acordo com as teorias ecónomicas, que o transformou, por sua vez, naquele objectivo vil que é um negócio.
Por isso apenas publicam o que sabem que vende, e a maioria das vezes o que vende não é a qualidade da escrita, mas as personalidades da TV, as notícias papagueadas semanas seguidas...
Cabe-nos a todos nós, a nós escritores principalmente, inverter esta maré, enchendo o mundo de histórias de forma tal que uma dia o mundo se veja obrigado a pedir-nos para as juntaremos num livro, para que todos as possam ler, porque ser lido é, ao fim ao cabo, o nosso mais secreto desejo, porque nós, escritores, não passamos de simples contadores de histórias. », in Alterwords, nº 2
Eu tenho um livro publicado – Império Terra: o princípio... A oportunidade foi-me dada pela Papiro. Foi lançado em 22 de Fevereiro de 2008, na Bertrand do Vasco da Gama, tive direito a tudo aquilo que um escritor que publica um livro tem e foi tudo. Os apoios para manter o livro nas prateleiras das livrarias foram poucos ou nenhuns e foi com tristeza que fui assistindo ao seu desaparecimento das montras, das estantes, e fui-me perguntando porquê.
A resposta é, exactamente, porque o livro é um negócio, é visto como um potencial artigo de lucro e não como aquilo que ele realmente é, ou deveria ser, uma porta para a alma de quem o escreveu, para uma alma que tem a necessidade missionária de contar histórias, histórias que ensinam, que têm uma moral, ou que simplesmente entretêm.
Quem tem culpa disto?
Todos nós.
Começando no próprio escritor que, a dada altura da nossa história social, se auto excluiu do mundo, se tornou inacessível, às vezes inentendivel, escondendo-se sob rebuscadas metáforas, palavras difíceis, e dessa forma se tornou o símbolo elitista de uma classe abastada, ou o ostracizado parasita da sociedade. E foi por entender esse erro que surgiram alguns interessantes fenómenos de popularidade, como é o caso do Paulo Coelho, que soube contar histórias difíceis de maneira simples...
Depois apareceram os intelectuais, os críticos literários, aqueles senhores que dizem mal de tudo o que se faz de novo e nunca, jamais, terão coragem de dizer o que realmente pensam de um livro mau de um escritor reconhecido. Estes senhores estagnaram a literatura, congelaram os parâmetros pelos quais se reconhecem boas obras, baniram os ensaístas e com este banimento condenaram todos aqueles que querem escrever de forma diferente. É curioso verificar que a maior parte destes senhores jamais publicaram: será porquê? Será porque não têm coragem, ou porque não o sabem fazer?
Por fim, temos o leitor. Esse pobre que é muitas vezes apontado como o culpado - «Em Portugal lê-se pouco!». – é uma vítima de toda esta maquinação. O leitor encontra-se desinteressado, porque tudo o que é publicado é igual e porque é desencorajado a ler coisas diferentes. Poderemos comparar esta questão ao problema político que se vive em Portugal: eles são todos iguais, não sabemos em quem votar, e por isso não votamos. Por isso se diz -« Em Portugal há muita abstenção». Se transpusermos para a leitura teremos: os livros são todos iguais, são caros, os diferente são mais baratos, mas são considerados inferiores, e então não compro e não leio. Se a esta questão somarmos a preguiça galopante da nova geração, a tendência por optar pelas coisas que dão menos trabalho e que permitem a maior absorção de informação possível no mais curto espaço de tempo, temos o cenário actual.
Assim, neste contexto, o livro realmente tornou-se num objecto de pouca procura, e é a escassez, de acordo com as teorias ecónomicas, que o transformou, por sua vez, naquele objectivo vil que é um negócio.
Por isso apenas publicam o que sabem que vende, e a maioria das vezes o que vende não é a qualidade da escrita, mas as personalidades da TV, as notícias papagueadas semanas seguidas...
Cabe-nos a todos nós, a nós escritores principalmente, inverter esta maré, enchendo o mundo de histórias de forma tal que uma dia o mundo se veja obrigado a pedir-nos para as juntaremos num livro, para que todos as possam ler, porque ser lido é, ao fim ao cabo, o nosso mais secreto desejo, porque nós, escritores, não passamos de simples contadores de histórias. », in Alterwords, nº 2
Por hoje é tudo, senhores... Na minha humilde opinião, problema não é do Fantástico só, mas de toda a literatura e do Fantástico também!
Sem comentários:
Enviar um comentário