Depois de ter lido o post no Anagrama Anárquico e colocado aqui o post anterior sobre a discussão que se propagara no Correio do Fantástico, recebi um comentário ao meu post - do qual discordo, posição a que tenho todo o direito. Acontece que ao responder ao mesmo, verifiquei que aquela mesma discussão se espalhara até ao Anagrama Anárquico. Curioso, estas coisas!!! Mas isto é bom, porque se discutem ideias e ideais. Desta vez, pretendo apenas efectuar um esclarecimento sobre a minha posição nesta matéria. Eu concordo inteiramente com o que tem vindo a ser dito. No entanto, penso que o «problema» - digo-o assim para não ferir susceptibilidades - não é do Fantástico, mas da literatura em Portugal e principalmente para os novos autores. Em Portugal não se promove o livro a não ser que se saiba que vai vender, e todo o novo autor é uma incógnita. É por isso que se assiste ao que se assiste nas prateleiras das livrarias, e é por isso que os novos autores têm dificuldades em vingar. Mas isto é verdade: tanto para o escritor de fantástico, como de qualquer outro género. Falta quem apoie efectivamente, quem esteja disposto a investir tempo que seja... No Fantástico, é um pouco mais complicado, porque no meio editorial, parece-me, é um género mal amado - se um escritor famoso português que o escreve, o renega! Disseram-me que não se devem apontar culpados, mas sim procurar maneiras de elevar o género. Eu discordo, em parte, e concordo noutra parte. Discordo, porque há culpados, há estrututas, há grupos de interesse, que manipulam a verdadeira essência da literatura ao condicionar a escolha de tudo com base em critérios como o lucro, o número de vendas. Quem já leu sobre esta problemática conhece pelo menos duas histórias: a da escritora famosa e conceituada que enviou uma obra sob outra identidade para a sua editora, e que acabou por vê-la rejeitada por falta de qualidade, e que depois a voltou a apresentar sob o seu nome tendo essa obra tornado-se num dos seus livros mais famosos; e a de uma fadista conhecida que se viu rejeitada por uma grande editora, porque «aquela música não se ouvia», e agora só se fala dela. São dois bons exemplos do que digo. Não se enganem: quem quer ser escritor tem muito trabalho pela frente, muito mesmo, mas também é isso que dá gozo. No entanto, há que apontar o dedo a quem tira os tapete debaixo dos pés desses árduos trabalhadores, e faz parecer esse glorioso caminho um golpe de sorte. Concordo, todavia, com o facto de que apontar o dedo apenas, acusar alguém, não resolve o problema, é preciso fazer crescer a literatura e o Fantástico e é nisso que temos de apostar. Ainda assim, não posso aceitar que digam que este problema não existe, porque ele existe, e faz parte desta conjuctura que torna tudo mais complicado. Não será por fazermos como a avestruz, ou por fecharmos os olhos, que os problemas desaparecem. Talvez seja mais fácil acreditar no dia seguinte... Mas...
Mais cego é aquele que não quer ver...
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